quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Na universidade

Quando o trem até Dortmund parou na estação da universidade, hoje pela manhã, senti que deixei definitivamente muitas coisas para trás. Nada mais tem a ver com a minha imaginação, com a minha vontade de ter novas experiências, com a minha ousadia, com as minhas palavras amareladas, com o meu impulso quase infantil de sonhar demais. É tudo verdade, palpável, cara a cara.

Por alguns minutos fiquei sorrindo sozinho com as mãos apoiadas na janela. Fui quase um idiota, mas por aqui as pessoas não se espantam com isso. As idiotices têm sua razão de ser, afinal. Ninguém precisa explicar.

Depois, desci alguns degraus, subi outros, e estava dentro do campus da faculdade de jornalismo. Um amigo que me acompanhava, Daniel Drepper, também estudante de comunicação e conhecido dos Siebenbrock, acenou com a mão e nos dirigimos ao prédio mais próximo. Adivinha o que me esperava? Um seminário sobre notícias na web. Podia ser mais oportuno o assunto? Enfim...

A discussão foi em torno do surgimento de mais e mais blogs e twitters todos os dias e propõs as seguintes questões: devemos ensinar aos nossos alunos como usar essas ferramentas? Devemos criar uma disciplina específica que dê conta somente das revoluções tecnológicas e o avanço das mídias alternativas? De que forma a internet influência os outros suportes? etc, etc...


Frustração?

Almocei com a turma e muitas coisas foram novidade para mim. A principal delas é que quase ninguém fala da Escola de Frankfurt por aqui. Habermas? Que nada... Só que a explicação para isso é bastante plausível. Os autores mais clássicos da Teoria da Comunicação, para os alemães, são como Machado de Assis e José de Alencar para o brasileiros. Todo mundo já ouviu falar e conhece pelo menos um pouco, porém, nem sempre está lendo ou discutindo. Por quê? Porque a literatura, científica ou não, se movimenta, surgem novos talentos, novos temas a serem debatidos, novos paradigmas. No final das contas, eu até gostei de ter minhas expectativas frustradas.


Jornalismo universitário e especializado

Assim que saímos da cantina, fomos para o outro lado da universidade: seminário sobre esporte. Como o Daniel gosta de correr, ele quis se especializar nisso. Em Dortmund é assim, o estudante pode escolher entre política, cultura e outros. É quase uma espécie de pós-graduação que se faz durante o bacharelado em jornalismo. Bem interessante. Além disso, o curso demora mais tempo; em média cinco anos. Isso porque os alunos precisam se dedicar um ano ao voluntariado em jornais, revistas, sites, TVs, rádios ou assessorias. Nesse período, nada de aulas.

Como consequência da minha ida ao campus, acabei conhecendo os veículos de comunicação onde acontecem as aulas práticas e alguns estágios. Bom, resumindo é o seguinte: a rádio funciona e tem duas transmissões ao vivo por dia de notícias; a TV tem programação própria e telejornais ao vivo, mas não cheguei a conhecer os estúdios porque ficavam muito longe de onde eu estava; o jornal é quase sempre temático e envolve, inclusive, o que precisa ser melhorado na própria universidade. E tudo, mas tudo meeeeesmo, é feito pelos alunos.


Auf Deutsch (Em Alemão)

Algo certamente inesperado aconteceu durante a visita à Dortmund. Um dos alunos me convidou para escrevermos uma matéria juntos porque, naturalmente, meu Alemão é limitado. De qualquer forma, será em Alemão! Vamos publicar em um dos jornais locais. Mal posso acreditar. É muito para um dia só... hehehe...

A propósito, só para constar, a Alemanha não tem muitas faculdades de Jornalismo. Só em Dortmund, Leipzig, e outras duas cujos donos são empresários da comunicação que decidiram que querem formar seus próprios profissionais. Além disso, o diploma também não é obrigatório desde a Segunda Guerra Mundial, quando os nazistas tomaram conta das mídias e fizeram delas o que bem entenderam. Era muito mais fácil deixar qualquer um escrever (quem fosse a voz do partido, claro) do que exigir conhecimento. E essa parte da história, infelizmente, ainda não teve fim.

Um comentário:

  1. Que bom que voce riu sozinho na janela do trem! Idiota? Que nada! Creio que agora voce alcançou um novo patamar. A maturidade passa pela quebra de conceitos, preconceitos e paradigmas. Só assim deixamos de ser medíocres! Seja bem vindo ao admirável mundo novo onde a teoria em nada se compara à prática e a experiência cede lugar à vivência.
    Viva e seja feliz! "La vita e' adesso"!(A vida é AGORA!)

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