terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Berlim, o amor e a guerra


Enquanto voltava pra o hotel, esta noite, mais uma noite fria por aqui, uma multidão protestou no centro de Berlim contra as privatizações de algumas empresas alemãs. Não contei, claro, mas é certo que havia mais de cinquenta pessoas. Duas pistas foram ocupadas num espaço de 200 metros pelo menos.

A polícia acompanhou toda a movimentação. E, para a minha surpresa, não impediu nada.

Curiosamente, quando entrei no saguão do local onde estamos hospedados, fui assistir a uma palestra com um norte-americano sobre a queda do muro que durante quase trinta anos dividiu a capital alemã em ocidental e oriental; primeira parte dos Estados Unidos, Inglaterra e França e segunda parte dominada pela antiga União Soviética.

Bom, já cheguei no meio da "reunião". Ouvi: "... não foi uma queda... caíram com o muro... muita gente ajudou... foi como um protesto..."

Sorri porque tinha acabado de ver algo parecido. Coisa que não vejo com frequência no Brasil. Essa, no entanto, é uma pequena parte do que, de fato, me provocou, mais tarde, um sorriso, digamos, SORRISO, com letras bem grandes.

Vou explicar. Só peço que me perdoem. Não sei o nome do homem que deu a palestra. Dá pra acreditar? Que belo jornalista, não? Confesso que foi um lapso horrível, embora provocado, acredito, pelo envolvimento na história que ele contou. Uma história de amor. E eu amo histórias de amor. Devo dizer que o erro foi parte da emoção.

*

Depois de divagar sobre questões políticas da Alemanha partida em dois países, o senhor de pernas cruzadas e cabelos lisos balançou um papel na mesa, quem sabe o currículo que eu deveria ter lido antes de pensar o post, respirou fundo e disse para exatamente sete ouvintes, incluindo eu, claro: "... estou casado há 52 anos... eu e minha mulher morávamos em lados opostos... não foi fácil..."

Ele abaixou a cabeça, olhou pra um lado, pra o outro. Girou uma das mãos, colocou na boca e não precisou esperar silêncio. Todos estávamos calados.

""

O norte-americano vivia do lado ocidental desde criança. A alemã, do lado oriental. Os dois se conheceram antes do muro ser erguido, numa madrugada de agosto de 1961. Foi um choque quando viram que a cidade estava mudando e que os planos precisavam mudar também. E mudaram.

Ela foi para o lado dele e se casaram, rezando pra que as duas famílias pudessem um dia comemorar juntas. A festa aconteceu no fim dos anos oitenta, quando o concreto caiu e a Alemanha voltou a ser um país apenas.

***

O senhor que não sei quem realmente é deixou de escrever muitas cartas apaixonadas no tempo de namoro, cheias de calor. Passou por revistas incontáveis para visitar sogro e sogra, cunhados, etc. Mesmo assim, nunca foi capaz de esquecer as palavras românticas que dizia e como era romântica a arte da resistência: "... é preciso acreditar no ser humano, na força das coisas que valem a pena... na força desses sentimentos que nascem na dificuldade..."

O palestrante, então, passou a pesquisar a vida daqueles que morreram na tentativa de atravessar a barreira, ou simplesmente sobreviver. Já se aposentou e, agora, diz o que viveu.

Eu precisaria de mais espaço e mais tempo pra registrar tudo. Mas ele também não deu tantos detalhes. Ficou emocionado. Mudou de assunto várias vezes.

****

Deixo vocês, então, com uma foto das partes do muro de Berlim que estão, hoje, numa praça onde, antes da década de noventa, havia praticamente um deserto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário